sexta-feira, 15 de abril de 2011

“Pare, Escute, Olhe”, na SIC Televisão, dia 16 de Abril

O documentário “Pare, Escute, Olhe”, já tem estreia marcada na SIC Televisão (co-produtora do filme). Adaptado a uma versão de 55 minutos, o documentário será exibido no dia 16 de Abril, às 23h30 - depois da novela Laços de Sangue.

:: SINOPSE :: Dezembro de 91. Uma decisão política encerra metade da centenária linha ferroviária do Tua, entre Bragança e Mirandela. Quinze anos depois, o apito do comboio apenas ecoa na memória dos transmontanos. A sentença amputou o rumo de desenvolvimento e acentuou as assimetrias entre o litoral e o interior de Portugal, tornando-o no país mais centralista da Europa Ocidental.

Os velhos resistem nas aldeias quase desertificadas, sem crianças. A falta de emprego e vida na terra leva os jovens que restam a procurar oportunidades noutras fronteiras. Agora, o comboio que ainda serpenteia por entre fragas do idílico vale do Tua é ameaçado por uma barragem que inundará aquela que é considerada uma das três mais belas linhas ferroviárias da Europa.

PARE, ESCUTE, OLHE é uma viagem por um Portugal profundo e esquecido, conduzida pela voz soberana de um povo inconformado, maior vítima de promessas incumpridas dos que juraram defender a terra. Esses partiram com o comboio, impunes. O povo ficou, isolado, no único distrito do país sem um único quilómetro de auto-estrada.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Realizei mais um sonho...

Acabei por ir de carro até Brunheda, e não de comboio Porto – Tua, conforme inicialmente delineei.
Parti de Valongo às 7.30h com uma chuvinha fresca tipo orvalhada… mas cheguei à estação de Brunheda por volta das 10h com uma belíssima manhã solarenga!
Depois de reforçar o estômago com croissants, cheia de alegria e entusiasmo, dei assim inicio à jornada de 21,2 km´s com o objectivo: Foz do Tua!
Esteve um belo dia de primavera, com algumas sombras proporcionadas pelas escarpas e túneis, tão propicia para quem quer caminhar. Um tempo excelente sem dúvida! Não senti nem um pouco o cansaço. Foi sempre com muito entusiasmo que percorri a linha, as paisagens enalteceram a minha alma… são momentos como os que vivi no Sábado que dão um sentido especial à vida…
 Todo o troço que fiz foi ladeado por imenso rosmaninho!
Após a passagem da Ponte da Paradela, algures por ali, desci até ao rio e almocei, num cenário idílico, com um belo farnel!
Deu para recuperar energias e aproveitar para desfrutar calmamente da beleza da paisagem.
Reiniciei a caminhada e foi então a vez de deixar-me surpreender com os túneis e a imponência das Fragas Más!
Os últimos 3 km’s foram os mais difíceis porque não tinham as traves de madeira e foi sempre a caminhar entre os godos.

Foi já com um grande sentimento de nostalgia e grande emoção que cheguei ao km 0!
Aguardei à beira do Douro pelo táxi da CP. Foi uma curta viagem até ao carro mas muito interessante pois tive a oportunidade de ter algum contacto com os habitantes locais!
Chegada à estação de Brunheda, já ao cair da tarde, ainda quis andar um pouco mais, desta vez para o sentido de Codeçais.
Partida para casa às 20h mas com imensa vontade de ficar!
Fica a promessa de mais um troço: Brunheda – Cachão!
Realizei mais um sonho...ao meu companheiro de caminhada o meu obrigada!

Berta Oliveira

Nota: Os meus agraciamentos a Berta Oliveira de acedeu a partilhar as suas emoções e fotografias no Blogue A Linha é TUA. Estou em crer que foram momentos fantásticos os que viveu nestas paisagens maravilhosas, durante a caminhada que realizou na Linha do Tua no dia 9 de Abril.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Abraço ao Tua - Uma Linha, um destino

No dia 27 de Março estive em Foz-Tua para participar na iniciativa Abraço ao Tua. Num momento em que a economia domina todas as notícias e está na base das preocupações de todas as pessoas, um grupo de movimentos uniu-se para mostrarem que a defesa da Linha do Tua e do rio Tua não está esquecida. A iniciativa foi organizada pelo Movimento de Cidadãos em Defesa da Linha do Tua, a Associação dos Amigos do Vale do Rio Tua, a associação Campo Aberto, a associação GAIA, a COAGRET, o Movimento Cívico pela Linha do Tua e a associação ambientalista Quercus.
Além da crise, causaram também alguns constrangimentos, a mudança da hora, o estado do tempo, bastante instável, e a greve dos comboios que dificultou as deslocações de quem pretendia participar na iniciativa e pretendia deslocar-se para o Tua usando o caminho-de-ferro.
 
Fui dos primeiros a chegar ao Tua e fiquei bastante satisfeito quando se começou a juntar um bom grupo de pessoas, vindos dos lugares mais díspares do país. Quando entrámos para o autocarro que nos levaria a Castanheiro do Norte onde se iniciaria a caminha que integrava o programa, este ficou rapidamente cheio e foi necessário fazer uma segunda viagem.
Já há algum tempo de ansiava fazer o caminho entre o Castanheiro e a Linha do Tua a pé e foi bastante agradável faze-lo na companhia de mais de 70 pessoas das mais variadas idades e proveniências. Alguns dos rostos eram meus conhecidos, ou do concelho de Carrazeda de Ansiães ou de outros eventos em torno da Linha e do Vale do Tua. Dividi o tempo entre algumas conversas e arranques rápidos para tomar posição e tirar algumas fotografias ao grupo a caminhar na linha, coisa que raramente posso fazer quando faço caminhadas sozinho.
 
A descida até à estação do Castanheiro foi rápida. A inclinação é muita e todas caminhavam com bastante energia. Já se encontravam muitas espécies vegetais em flor e não faltavam motivos de interesse, aos mais curiosos. Depois de chegados à Linha, pensou-se em tirarmos uma fotografia de grupo. Foi necessário esperar bastante e os que já estavam na estação foram dispersando e aproveitaram para comerem alguma coisa.
A caminhada ao longo da linha iniciou-se já depois do meio-dia. Mesmo com o céu escuro que, de tempos a tempos, despejava algumas gotas de água sobre os caminhantes, a paisagem estava verdejante, salpicada de flores amarelas e rochas, com o rio azul com um caudal considerável.
Cada um ao seu ritmo, foi percorrendo o perto de 8 km que separam a estação do Castanheiro da foz do Tua. O grupo não voltou a juntar-se. Pensava eu que seria feita uma pausa para o almoço volante, algures perto da estação de Tralhariz, mas, para não se desperdiçar o tempo, o almoço teria lugar já no final da caminhada.
 
A zona dos túneis das Fragas Más e do viaduto despertam sempre muita admiração a quem aí passa pela primeira vez. Uma coisa é ouvir falar, ver um filme ou algumas fotografias, outra é percorrer a pé, passo a passo esta linha centenária rasgada a muito custo no granito puro e duro. Percorrer locais assim é uma terapia, para o corpo, e para a alma, porque a grandiosidade da natureza faz-nos sentir pequenos.
O vale é estreito e profundo, agreste e despovoado. Talvez por isso seja fácil “fácil” fazer aqui uma barragem. Mas, também aqui, as rochas e a linha não sabem nadar. Este é uma local para admirar, não para afogar. A prova de que locais assim atraem fomo-la tendo ao longo da caminhada, cruzando-nos com numerosos grupos que percorriam a linha em sentido contrário ao nosso. Mesmo nas condições mais adversas, as pessoas vêm Tua, percorrem quilómetros a pé, porque encontram aqui uma paisagem única, uma das maravilhas de Portugal.
 
Há cerca de um ano que não fazia este percurso da linha. Não são notórias quaisquer obras desde essa altura. Não esbarrei na tal pedra aqui colocada pelo chefe do governo. Além dos cerca de 3 quilómetros onde os carris foram arrancados e do estradão ilegalmente rasgado pela EDP, não são evidentes, felizmente, grandes alterações na garganta do rio.
Cheguei ao Tua, na companhia da minha esposa, que pela primeira vez me acompanhou numa caminhada ao longo da Linha do Tua, às 14 horas e 30 minutos. Descemos para junto do rio, junto da ponte rodoviária, e aí abrimos o nosso farnel para o almoço. Outros grupos juntaram-se a nós.
 
Às 15h30m começaram a juntar-se as pessoas sobre a ponte para o simbólico Abraço ao Tua. Chegaram mais pessoas, que não participaram na caminhada, vindas das aldeias afetadas pelo encerramento da Linha, como Brunheda e Codeçais. Do poder autárquico não vi ninguém. Está mais que sabido só podemos contar com os nossos representantes para dividirem entre si o bolo de uma tal Agência para o Desenvolvimento do Tua. É pena que alguns presidentes de câmara, no poder há décadas, apenas se lembrem do vale do Tua e da Linha do Tua quando veem acenar alguns milhões. Que fizeram até aqui? Quantas vezes se bateram junto do poder central para contrariar o crescente abandono a que a linha foi deixada? Ainda não há milhões, mas já há desacordo, e nos bastidores tomam-se posições para calar as vozes mais incómodas, ou que fazem mais ruído (ficamos agora nós sem saber com que intenção). Se já nos cai a cara de vergonha com a política nacional que arrasta o país para um futuro incerto, melhor não estamos com os que nos estão mais próximos, que não ouvem as populações que os elegeram.
 
A marcar uma posição política no local estive o Bloco de Esquerda, mas também o partido ecologista Os Verdes” estiveram solidários com a iniciativa.
Os meios de comunicação social no local foram escassos, com a presença da RTP e de alguns órgãos de comunicação social regionais do Porto e Vila Real, que eu me tenha apercebido.
 
As pessoas que uniam sobre a ponte rodoviária as duas margens do rio, deram as mãos e gritaram vivas à Linha e ao rio Tua, ao mesmo tempo que um grupo de jovens animava o ambiente com instrumentos de percussão. 
Após esse Abraço simbólico ao rio, as pessoas interessadas reuniram-se em assembleia popular junto à margem do rio para debaterem o problema. Houve também tempo para algumas demonstrações de desportos aquáticos.
 
Regressei a casa com a convicção de que ainda é possível parar este crime. Não é só o Vale do Tua que está em risco, o Douro Vinhateiro, Património Mundial e destino crescente de muitos turistas, também está ameaçado. Em vez da barragem, que apenas serve os interesses de uma empresa, o rio, e a linha do Tua, podem ser fatores de desenvolvimento, porta de entrada de turistas vindos de Espanha, canal de circulação de pessoas e bens que não é afetado pela geada ou neve. Há bons exemplos de explorações de linhas de montanha por toda a Europa, porque é que temos que seguir os maus?