sábado, 16 de maio de 2009

Cachão-Brunheda, em Abril

No vai e vem em que a nossa vida agitada se tornou ficou por fazer a “reportagem da minha última viagem pela Linha do Tua. Foi já a 3 de Abril. A ideia foi testar o plano que fiz para percorrer a Linha em 3 etapas e que publiquei a 30 de Março. Decidi testar a segunda etapa, Cachão – Brunheda, uma vez que a 1.ª, Brunheda – Tua já a fiz por diversas vezes.
Parti cedo, com um dia inteiro pela frente unicamente para desfrutar as belezas da Linha do Tua e do rio. Fui de carro até à estação do Cachão, tomei um café e parti pela Linha, consciente que só depois da seta da tarde estaria de volta. Tinha cerca de 10 horas para me esquecer do mundo.
Passar pelo que resta do complexo do Cachão próximo das nove da manhã, não é agradável. É muito desagradável. Há o fumo que se eleva no ar; há o cheiro que tresanda; há a água que passa por debaixo da linha em direcção ao Tua de que é melhor nem falar. Dois dias depois esta situação foi notícia na imprensa regional e não só.
Esqueci as cenas tristes na primeira curva, ao 41.º quilómetro.
Ainda não eram nove horas da manhã! O solo transpirava humidade e as flores frescura. Dos pequenos rebentos das videiras caíam gotas de orvalho em forma de diamante. Ao longo dos carris alamedas de pequenas papoilas desafiavam a minha mestria para calcular exposições, graduar focagens e testar velocidades.
Nunca a minha progressão foi tão lenta! Demorei quase 2 horas para percorrer o primeiro quilómetro. Perdi-me entre as flores do espinheiro, amores-perfeitos e violetas. O rio corria docemente, sem barulho, não querendo despertar-me do meu transe.
Só depois de ultrapassar a passagem mais estreita, o Cachão, adquiri o passo digno de uma caminhada.
Já tudo me parece familiar na Linha. Quase sem querer cheguei à ponte do Vilarinho. Ensaiei algumas fotografias em locais onde me deliciei no Outono sentindo a mesma emoção na Primavera.
Logo depois de chegar à freguesia de Vilarinho das Azenhas, a minha atenção centra-se quase sempre no rio. A linha corre solta durante algum tempo até se reencontrar com o rio, quando os rochedos os apertam já depois da Ribeirinha. É, portanto a altura de fazer algumas descidas ao rio para apreciar o que restas das antigas azenhas que deram nome à terra. Várias continuam de pé, desafiando o tempo e a força das águas servindo de abrigo a ninhos de piscos e carriças. Há caminhos rurais que permitem seguir percursos alternativos e deixar, por momentos, os carris.
Cada vez que levantava o olhar ele perde-se no alto do Faro, que toca o céu, criando um cenário singular em toda a extensão da linha.
Rapidamente atingi a Ribeirinha onde me aguardava o último guardião da linha, o sr. Abílio. Sentado no seu banco já gasto pelo tempo e pela espera, procura saber notícias da linha. Deixou de ser assunto no seu pequeno rádio a pilhas.
Continuei por caminhos ladeados de sumagre até entrar no reino do granito. Os quilómetros seguintes até Abreiro são de puro encantamento. Já eram quase três horas da tarde quando aí cheguei! A progressão foi muito lente fiz a pior média de todas as minhas caminhadas na linha! A que acontece é que quando a atenção se centra na fotografia, a caminhada fica para segundo plano e durante muito tempo nem se caminha.
Acelerei o passo. Atravessei a Ponte da Cabreira e entrei em território de Carrazeda de Ansiães. A bateria da máquina fotográfica começou a dar sintomas de “cansaço”. Diminui o ritmo das fotografias e aumentei de novo a cadência do passo.
Desci a mais uma azenha, mesmo em frente à Sobreira. A tarde avançada já não me permitiam fotografias como durante a manhã, mesmo assim, fiz alguma exposições triplas usando uma técnica chamada brackting, para mais tarde tentar optar pela melhor ou experimentar outra técnica chamada HDR (Dynamic Range Imaging), que tenho tentado ultimamente.
Quando cheguei ao apeadeiro da Abrunheda, eram seis horas da tarde. Não tinha já baterias (levei 3!) e nada mais fiz do que esperar o taxi que fazia o serviço da linha, que me levou de novo ao Cachão.
Foi uma longa jornada. Dez horas pela linha ouvindo apenas o canto das aves e o barulho do rio. Tal como em caminhadas anteriores, verifiquei que nos primeiros quilómetros se tiram mais e melhores fotografias. Por isso não é indiferente o local onde se começa a caminhada. À medida que os quilómetros passam, diminui o entusiasmo mas também a qualidade da luz. Percorri sem grande dificuldade 20,7 quilómetros. O meu plano de percorrer a linha em três etapas é bastante exequível.

2 comentários:

mario carvalho disse...

Em

http://www.acdporto.org/2009/05/15/carta-aberta-a-associacao-de-cidadaos-do-porto-braga-e-aveiro-tua-e-artificialidades/


Carta aberta à Associação de Cidadãos do Porto, Braga e Aveiro - Tua e artificialidades
Posted by Miguel Barbot

“Caras Associações

Eu vou ser muito sincero e directo.

Estou-me a lembrar da equipa que resolveu avançar com o projecto das indústrias criativas em Serralves.
Acabou a liderar a Agência de Criatividade. Já têm uma função e uma remuneração. E podem crer que aquilo vai dar em muito pouco. Mas juntou todos os notáveis da cidade e arredores.
Por sua vez, o Presidente da Junta de Paranhos lançou, ontem, o HUB do Porto.
Eu vi lá muitos notáveis, de outra estirpe, que não são as mesmas pessoas de Serralves.E aquilo vai funcionar…

Custa-me estar a viver e a contribuir para a criação de situações artificiais, por muito louváveis e meritórias que o sejam, e deixar cair, por egoísmo e miopia, as situações e os apelos reais, para as quais nada fazemos.

Entretanto, só porque não está ao alcance dos nossos olhos, e sobretudo, por não ser uma luta cuja originação tenha sido nossa, deixamos engenheiros construir uma barragem que vai contribuir para “reduzir a nossa dependência energética de combustíveis fosseis”, e matamos todo um potencial de ligação turística e de mercadorias do Porto de Leixões até Salamanca, que efectivamente rompa com a interioridade e potencia o nosso desenvolvimento regional?
É nisto que dá ir debater a regionalização, a todos os lados onde o assunto é aflorado? Ficamos depois cansados na hora da verdade.
E a defesa dos nossos problemas e das nossas causas bem reais? Isso dá trabalho e é pouco visível?

Eu estou farto de fetiches de engenheiros com as suas barragens. Que Conselhos de Administração ausentes e distantes decidam mais do que poderes eleitos, como, por exemplo, o Sr. Presidente da Câmara de Mirandela.
Estou cansado de ouvir arquitectos, engenheiros e economistas a falar de reabilitação da cidade como se isso tivesse a ver com obra física, quando a reabilitação que é precisa é a social, de criação de negócios de proximidade, de desenvolvimento de projectos que criem emprego, de afirmação nos mercados internacionais, de retenção de riqueza na cadeia de valor …e depois a recuperação física aparece feita.
Estou farto que se peguem nessas discussões, dando um triste espectáculo de supostas rivalidades ou ajustes de contas do passado,

Eu peço a todos que nos unamos e façamos as redes e as Associações da Região Norte falar em defesa e apoio a uma pessoa e a uma causa que foram deixadas sózinhas nesta luta, “o Sr. Presidente da Câmara de Mirandela e a manutenção da linha de caminho de ferro do Tua”.
Destroi-se a nossa história, o nosso ambiente e nós estamos aqui a ver se criamos mais razões de luta e de existência das Associações…
Perdoem-me, mas artificialidades não são causas e são um bom exemplo de falta de altruísmo na luta contra efectivas injustiças.
Não sejamos míopes e percebamos quando outros precisam da nossa ajuda. Nem todos precisam de estátuas na Terra,

O Douro, o Porto, o Norte e o país vão beneficiar com esta linha a funcionar.
Não se sentem revoltados quando bandos de advogados se preparam para defender em tribunal que o espírito que está subjacente à necessidade da EDP reconstruir, a outra quota, a linha do Tua, tem a ver com a essência do serviço a prestar e que esse pode ser feito por barcos?
Apenas para evitar custos excessivos à EDP.
E o que pensam desta mesma Empresa poder fazer mais pela nossa competitividade nacional se reduzisse as suas tarifas para o nível do praticado por nossos concorrentes empresariais, nomeadamente em Espanha, do que em criar com os excessos de resultados da sua actividade Fundações e outras artificialidades dedicadas a causas e à responsabilidade social? Não faria mais por essas causas se fosse mais justa nos preços que pratica, com isso contribuindo para não asfixar tanto os seus clientes empresariais e particulares, sem ser depois preciso ir atrás com ajudas sociais?
É que as entidades empresariais focam a sua atenção na rúbrica Custos com Pessoal, quando a sua sobrevivência depende mais dos tais FSE’s, onde os custos com energia são variável marcante, do que das despesas com pessoal cuja função final é alimentar a dimensão do seu próprio mercado interno de clientes…

É possível criar uma rede ferroviária entre Leixões e Salamanca, que até seja sustentável financeiramente e essa é a forma, pela positiva, do Sr. Presidente da Câmara de Mirandela liderar a última hipotese que terá de evitarmos um erro irrecuperável. Com as redes e as Associações a unirem-se em torno desta causa.

José Ferraz
AcdPorto”
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Tags: 200905 , ASC , JFA , Linha do Tua

com uma vénia a José Ferraz

cumprimentos

mario sales de carvalho

16 de Maio de 2009 18:57

Paulo Sousa disse...

É difícil ficar indiferente a uma paisagem tão digna e tão pura como esta que se vê da linha do Tua!
Em Codeçais, no apeadeiro que já foi estação, uma água fresca jorra de um cano perto do depósito...
Inesquecível!